domingo, 6 de fevereiro de 2011

Falta qualificação profissional no RN


Com um crescimento econômico superior à média mundial nos últimos oito anos, que abriu milhares de vagas de trabalho em todo o país em diversificadas áreas, o Brasil vive o que pode ser caracterizado como apagão da mão de obra especializada. As empresas não conseguem encontrar profissionais qualificados na quantidade e com o perfil desejado.  No Rio Grande do Norte, no último trimestre de 2010, a falta de trabalhadores    capacitados tecnicamente ocupou a segunda posição no ranking da pesquisa Sondagem Industrial realizada pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern) em parceria com a Confederação Nacional das Indústrias (CNI). De acordo com dados do estudo, a falta de trabalhador qualificado ganhou importância principalmente no setor fabril, sendo assinalada por 39% das empresas correspondentes.

 
alex fernandesKarla Motta fala sobre carência de pessoal no setor de logísticaKarla Motta fala sobre carência de pessoal no setor de logística
Um estudo coordenado pelo professor da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri, traça o perfil da educação profissional no Brasil.  Dados apontam que o número de jovens entre 18 e 24 anos que estão em alguma instituição de ensino formal vem caindo nos último anos (caíram 7,3% entre 2006 e 2008 de 7,5 milhões para 6,9 milhões). Além da evasão escolar a população jovem brasileira diminuiu, de acordo com dados do último Censo.

 Para suprir a necessidade do mercado, as escolas profissionalizantes e os cursos técnicos seriam uma boa opção. No estado, instituições como o Senai, Instituto Euvaldo Lodi (IEL), oferecem cursos subsidiados em áreas como logística, em franca expansão em cidades como Mossoró e Guamaré, por exemplo. “O mercado de logística tem sempre demanda. As empresas nos procuram solicitando profissionais especializados”, afirma a diretora da Sociedade Brasileira de Logística, Karla Motta.

 De acordo com Karla os salários no setor podem superar R$ 8 mil. “Nos cargos de diretoria, os vencimentos são significativos”. Empresas subsidiadoras da produção petrolífera, têxteis e produção em larga escala contratam profissionais especializados em logística para prestar o melhor nível de serviço ao cliente final pelo menor custo.

 Além de profissionais ligado à área de logística, as empresas  de petróleo e gás, por exemplo, buscam engenheiros qualificados. Não encontrando  profissionais qualificados no Brasil, muitas delas importam mão de obra. Os salários de um engenheiro com especialização em perfuração e produção em poços de petróleo pode chegar a 10 mil dólares.

 Para trazer um profissional especialista de outro país para trabalhar no Brasil, as empresas contratantes desembolsam até R$ 15 mil com o processo de aprovação do visto tipo V (Visto de Trabalho Temporário). O visto permite que o profissional permaneça por até dois anos no Brasil com a possibilidade de solicitar renovação a cada fim de prazo.

 Karla Motta alerta que as pessoas que buscam se especializar em alguma área analisem as possibilidades do mercado local. “Em logística, surgirão inúmeras ofertas de trabalho com o aeroporto de São Gonçalo do Amarante. As pessoas do RN poderão perder oportunidades de trabalhar caso não estejam qualificados”.

 Além deste setor, inúmeros outros crescerão até 2014 com a realização das obras de infraestrutura da Copa do Mundo e com a promoção do Brasil e das sub-sedes como destinos turísticos. De acordo com o superintendente regional do Senai, Rodrigo Mello, o número de postos de trabalho na construção civil no estado podem dobrar com as obras dos parques eólicos, novo estádio, infraestrutura viária e aeroportuária.

 “O crescimento da indústria foi muito acelerado nos últimos anos e a política de formação de mão de obra não tem uma estrutura disponível para atender essa aceleração.  Com um crescimento de 17%, hoje, é impossível ter mão de obra qualificada suficiente”, analisa Rodrigo Mello.

Mercado expande oportunidades

Com expectativa de crescimento da malha viária brasileira em até 20% até 2014, com a realização da Copa do Mundo no Brasil, o mercado de trabalho que envolve profissões ligadas a aeroportos e indústria aérea está em ascensão. Os salários para comissário de voo nacional podem variar entre R$ 2 e R$ 5 mil. Já os pilotos comerciais tem ganho estimado em R$ 12 mil nas companhias aéreas que operam voos domésticos.

 Em Natal, o Aeroclube oferece curso nas duas profissões, sendo a única instituição do Norte/Nordeste habilitada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Para a coordenadora do curso de formação de comissários de voo, Renata Deniz, o momento é oportuno para quem deseja se especializar na profissão de aeronauta.

 “Há muito tempo está faltando mão de obra nos aeroportos. Faltam comissários, pilotos, pessoal de apoio terrestre e o mercado aéreo está se expandindo muito rapidamente e não há profissionais suficientes atualmente”, analisa. Segundo Renata, os comissários brasileiros são os mais bem formados do mundo, devido aos treinamentos que recebem durante o curso que dura em média quatro meses e pela avaliação da Anac, anterior ao ingresso nas companhias aéreas.

 Durante as aulas, tanto os alunos do curso de comissário quanto os de piloto privado, aprendem como sobreviver em condições extremas (água, fogo, selva e gelo), além de disciplinas específicas para cada profissão. Segundo o professor Lobato, que administra aulas técnicas para as duas turmas, todos os pilotos que hoje trabalham em grandes empresas, tiveram que fazer o curso de piloto privado.

 “É o primeiro passo para quem deseja ser piloto de empresas como Tam ou Gol, por exemplo. Somente após a certificação de piloto privado, o aluno pode fazer o curso de piloto comercial”, afirma. Os salários oferecidos aos pilotos internacionais podem chegar a R$ 20 mil mais vantagens.

 Renata Deniz, que trabalhou como comissária de voo por vários anos, afirma que a profissão não tem o glamour que as pessoas imaginam. “É preciso trabalhar muito para conseguir voar, tem que ter perfil. Os comissários devem ter boa aparência, falar mais de uma língua e estarem preparados para tudo. É um trabalho duro, mas gratificante”.

 De acordo com a coordenadora, cerca de 40% dos alunos formados pela instituição conseguiram empregos em empresas de aviação. Alguns deles, inclusive, em companhias americanas e japonesas.

EUA ofertam vagas para qualificados

 Após o estouro da crise financeira que arruinou bancos e grandes empresas americanas, o índice de desemprego na nação mais poderosa do mundo chegou ao patamar de 9,4%, conforme dados divulgados numa reportagem do jornal norte-americano Washington Post. Apesar do elevado índice de desempregados, inúmeras companhias enfrentam dificuldades para encontrar mão de obra qualificada em determinados segmentos.

 De acordo com especialistas consultados pelo jornal, um dos principais motivos que contribuíram para a formação do atual cenário americano, é o processo de mudança econômica ao qual o país foi submetido após 2008. O declínio de valorizados setores, como o da construção civil, que era responsável pela geração de emprego e renda para milhares de nativos e imigrantes, contribuiu para o aumento de desocupados.  Com a lenta e gradual melhora da economia no hemisfério norte, as vagas têm sido disponibilizadas em outras áreas. O dinamismo e inovação destes setores exigem pessoal mais bem treinado. É o que acontece na cidade californiana de Fresno, com uma taxa de desemprego de 16,9%.

 Na cidade, a empresa de irrigação Jain Irrigation, não consegue encontrar um operador de máquinas de irrigação há um certo tempo. O salário oferecido é de 15 dólares por hora (muito acima da média). Além desta, a Community Medial Centers, que administra planos de saúde, procura por técnicos e terapeutas mas as buscas não obtiveram sucesso.

 Existem hoje, nos EUA, cerca de 3,2 milhões de vagas de emprego disponíveis. Em 2009, o número era de 2,3 milhões. Apesar da oferta, os brasileiros que vivel lá reclamam que as empresas estão pagando pouco e muitos já retornaram ao Brasil.

Ministério realizará censo

Com o objetivo de traçar o perfil das regiões nas quais faltam mão de obra no país, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) realizará, ainda este ano, um censo nacional para aferir a oferta de engenheiros profissionais no Brasil.

 A partir de uma parceria com o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea), a Secretaria de Comércio e Serviços do Ministério acredita que a partir de junho, o processo de levantamento será iniciado.

 De acordo com informações repassadas pelo MDIC, a intenção do cadastro é “criar um banco de informações que permitirá às empresas saber onde buscar engenheiros para as grandes obras de infraestrutura e do pré-sal previstas nos próximos anos”.

 Caso o cronograma seja seguido à risca, a partir de junho os engenheiros começaram a ser convocados pelos Conselhos Regional e Federal para responderem a um questionário. Questões sobre a instituição de graduação, o ano de formatura, o tempo de exercício e a disponibilidade para voltar a atuar na área, se estiverem em outras ocupações, devem ser informadas pelos profissionais de engenharia.

 Paulatinamente, o levantamento será estendido às demais profissões regulamentadas, de acordo com o MDIC. Além do mapeamento da disponibilidade de engenheiros por região, o censo irá auxiliar empresas e trabalhadores na ocupação de vagas abertas.

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