quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CASO ELOÁ: A DEFESA PEDE CONDENAÇÃO DE HOMÍCIDIO CULPOSO PARA LINDEMBERG

 
"Peço que os senhores condenem o Lindemberg pelo homicídio culposo", diz defesa. 
A defesa de Lindemberg Alves, acusado de matar Eloá Pimentel após mantê-la como refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 em Santo André (ABC paulista), está apresentando sua tese nesta quinta-feira (16), quarto dia de julgamento do caso.
"Não vou pedir a absolvição dele [Lindemberg]. Ele errou, tomou as decisões erradas e deve pagar por isso, mas na medida do que ele efetivamente fez", disse a advogada Ana Lúcia Assad. "Peço que os senhores condenem o Lindemberg pelo homicídio culposo [sem intenção de matar], pois ele não desejou o resultado. Ele sofre pela morte dela [Eloá]." Ontem, o réu deu seu depoimento e confessou que atirou em Eloá, mas negou que tenha planejado a morte da vítima --o tiro teria sido dado após ele tomar um susto com a invasão policial.


Sobre a outra refém, Nayara Rodrigues --amiga de Eloá baleada no fim do cárcere--, a defesa negou que ele tenha tentado matá-la. "Ele não tentou matar a Nayara. Ele se assustou e atirou. Condenem-o pela lesão corporal culposa", disse Saad. Segundo a advogada, "Nayara voltou ao apartamento porque quis".
O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe (contra Eloá), tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cárcere privado e disparos de arma de fogo.
"Enxerguem esse rapaz como um parente dos senhores, pois ele não é bandido", pediu a advogada ao iniciar seu discurso aos jurados. Mais tarde, ela disse que "é a bola da vez, o bode expiatório. Isso acontece só porque ele é pobre", alegou.
A defensora disse ainda que o réu não é o único culpado pelo crime. "No meu ponto de vista, há dois corresponsáveis por este processo. Alguns membros da imprensa e alguns policiais", alegou. "Não podemos dar essa conta toda para o Lindemberg pagar. Isso não é justiça."
Assad tem uma hora e meia para expor sua defesa. Antes dela, falou a promotora Daniela Hashimoto, responsável pela acusação contra Lindemberg. Ela tentou convencer os jurados que o réu mentiu em seu depoimento e que toda a ação que terminou com a morte de Eloá Pimentel foi premeditada.

Hoje começou o quarto e, espera-se, último dia de julgamento. A sessão começou com o debate entre as partes: uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa. A sessão foi suspensa às 13h25 para um recesso de uma hora. Ainda não se sabe se haverá réplica a pedido da promotoria.
Somente depois disso, os jurados vão para uma sala dar seu parecer e, na sequência, a juíza lerá o veredicto. A expectativa é que a decisão do júri seja conhecida hoje.

Ele não se arrependeu, diz advogado

Ao chegar ao fórum hoje, o advogado José Beraldo, assistente de acusação, afirmou que Lindemberg premeditou o crime. “Vamos mostrar que o passado dele não é bom e que ele sequer teve um momento de arrependimento."
O advogado afirmou que a perícia mostrou que o tiro que matou a jovem foi de execução, de cima para baixo e a poucos centímetros de distância. “Foi um tiro na cabeça de Eloá e um na parte íntima [virilha] dela. Típico de um animal”, afirmou.
Segundo Beraldo, o réu foi ao apartamento de Eloá, que estava com amigos, por ciúmes, porque achava que eles estavam “namorando”. Mas, que ao chegar lá, percebu que estavam fazendo um trabalho da escola.
Beraldo também disse não acreditar no pedido de desculpas feito por Lindemberg ontem à mãe da vítima. “Aquele pedido de perdão foi uma ameaça, foi um recado [à família de Eloá]. Uma ameaça que fala: ‘Perdeu? Pode perder mais”, declarou.


Depoimento do réu no terceiro dia

O terceiro dia do julgamento de Lindemberg foi quase totalmente dedicado ao depoimento do réu, que falou pela primeira vez sobre o caso. Ele ficou mais de cinco horas respondendo a perguntas da juíza e da acusação. Já os questionamentos da defesa duraram cerca de dez minutos.
Lindemberg confessou que atirou em Eloá, mas negou que tenha planejado a morte da vítima. "Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei [contra ela]. Foi tudo muito rápido. Pensei que ela fosse pegar minha arma", afirmou. A fala contraria a versão dos policiais, que alegam ter invadido o local apenas quando ouviram um disparo. O réu também negou que tenha disparado contra um policial que participava das negociações e que tenha feito os amigos de Eloá reféns --eles teriam ficado por opção, segundo Lindemberg. No começou de seu depoimento, o réu pediu perdão à mãe de Eloá.
Sobre o tiro que acertou Nayara, Lindemberg  disse não se lembrar. "Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro."
Lindemberg também negou que estivesse ameçando matar Eloá, como relataram diversas testemunhas nos primeiros dias do julgamento. "Muita coisa que eu disse foi blefe para manter a polícia longe do local", disse. "Eu estava muito nervoso e tomei atitudes impensadas. Atirei para o chão para manter a polícia longe do apartamento."
O réu disse ainda que chegou a encarar o cárcere como uma "brincadeira". "Infelizmente foi uma vida que se foi, mas em alguns momentos levamos aquela situação como se fosse uma brincadeira", disse. Após o depoimento, a sessão foi suspensa.


Segundo dia

O segundo dia de julgamento teve como destaque a versão dos familiares da vítima sobre o caso. Os dois irmãos de Eloá prestaram depoimento na terça-feira (14). O primeiro foi Ronickson Pimentel, 24, o irmão mais velho. Ele afirmou que Lindemberg é "um monstro", embora sua família o tratasse como "um filho". “Ele é um monstro, é capaz de tudo”, afirmou Ronickson. A testemunha disse que o comportamento de Lindemberg na frente da família de Eloá era completamente diferente da sua postura na rua –geralmente uma pessoa briguenta, especialmente quando jogava futebol.

Ronickson se emocionou ao citar o impacto da morte de Eloá para o irmão mais novo, Everton Douglas, 17. “Meu irmão se fechou bastante. Acho que ele se sente um pouco culpado porque foi ele que apresentou Lindemberg para minha irmã. Eles eram amigos.”
Ao dar seu depoimento mais tarde, Everton confirmou que “infelizmente” era muito amigo de Lindemberg.
A mãe de Eloá, que foi arrolada como testemunha da defesa, chegou a entrar no plenário para depor, mas foi impedida pela advogada Ana Lúcia Assad, que voltou atrás e dispensou o depoimento.
No período em que esteve no plenário, Ana Cristina Pimentel encarou o réu. "Não vi arrependimento nele, ele não pediu perdão", afirmou depois aos jornalistas.
Também prestaram depoimento nesta terça outras testemunhas de defesa, entre elas dois jornalistas que fizeram a cobertura do caso.
Dois policiais que participaram das negociações para libertar Eloá também foram arrolados como testemunhas. O delegado Sérgio Luditza disse que os planos de resgate mudaram quando o réu disse a seguinte frase: “eu estou ouvindo um anjinho e um capetinha e o capetinha está vencendo".
Também prestou depoimento por cerca de 4 horas o agente do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) Adriano Giovanini. Ele disse que Lindemberg “espancava muito Eloá durante o cárcere”. De acordo com o agente, o réu anunciava constantemente que ia matar a jovem e cometer suicídio. Segundo Giovanini, um tiro disparado dentro do apartamento motivou a invasão do local.
O agente também foi questionado sobre a volta da outra refém, Nayara Rodrigues, ao cativeiro. “A volta da Nayara não foi planejada, foi um excesso de confiança na Nayara porque o Lindemberg tinha dito que se entregaria na presença dela e do irmão mais novo de Eloá”, alegou.

Primeiro dia

O primeiro dia de julgamento durou pouco mais de nove horas e foi encerrado às 20h de segunda-feira (13). As quatro testemunhas que prestaram depoimento confirmaram que Lindemberg fazia ameaças de morte durante o cárcere privado. O testemunho mais esperado do dia era o da amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, que foi feita refém junto com a jovem. Nayara pediu que Lindemberg fosse retirado da sala enquanto ela falasse.
Outros dois amigos de Eloá, que também foram mantidos reféns, afirmaram que Lindemberg os ameaçava de morte. "Ele dizia que ia fazer uma besteira", disse Victor Lopes de Campos respondendo às perguntas da promotora Daniela Hashimoto. Já Iago Oliveira afirmou que "ele ameaçava a Eloá a toda hora, e dizia que ela não ia sair viva de lá: ou ele ia matar todo mundo e se matar, ou matar a Eloá e se matar".
O sargento Atos Antonio Valeriano, policial militar que iniciou o trabalho de negociação com Lindemberg, disse que o jovem estava nervoso e dizia que “ia matar os quatro” e depois ameaçava também se matar.

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