terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"A SENHORA PRECISA VOLTAR A ESTUDAR" DIZ A ADVOGADA DE LIMDEMBERG A JUÍZA DO CASO ELOÁ


A advogada de defesa de Lindemberg Alves, Ana Lúcia Assad, voltou a causar polêmica durante o julgamento de seu cliente, que está respondendo a processo por ter mantido em cárcere privado sua ex-namorada Eloá Pimentel em outubro de 2008 --o caso terminou com a morte da vítima.
Após encerrar suas questões para a perita da Polícia Civil Dairse Aparecida Pereira Lopes, uma das testemunhas de defesa ouvidas nesta terça-feira (14) --segundo dia do julgamento--, Assad pediu a juíza do caso para fazer mais algumas perguntas, o que foi indeferido pela magistrada.

“Em nome do princípio da verdade real, eu quero ouvir a testemunha de novo”, alegou a defensora. “Esse princípio não existe ou não tem esse nome”, retrucou a juíza Milena Dias. “Então a senhora precisa voltar a estudar”, disse a advogada.
Antes que a juíza pudesse responder a ofensa, a promotora Daniela Hashimoto interveio e disse que Assad poderia responder por desacato se fizesse comentários como esse. Ao fim, a magistrada permitiu que as novas questões fossem feitas.

VEJA COMO FOI O PRIMEIRO DIA DO JULGAMENTO

Assad questionava a perita sobre um erro na numeração das armas que constavam no laudo. De acordo com Lopes, a troca de números de fato ocorreu, mas o erro já havia sido retificado.

Polêmicas

A advogada já ameaçou, por duas vezes, abandonar o plenário se pedidos seus não fossem atendidos: um deles, feito ontem, era sobre a convocação da mãe de Eloá como testemunha; o outro, de hoje, era justamente um recuo, pedindo que a mãe não falasse mais em juízo.
Ontem, a advogada também causou polêmica ao afirmar que a testemunha Nayara Rodrigues havia mentido, inventado coisas e forçado o choro. Durante o julgamento, Assad perguntou a Nayara se ela havia sido orientada pelos advogados a chorar.
Ao chegar ao Fórum de Santo André hoje, o advogado de Nayara, Marcelo Augusto de Oliveira, comentou a fala. "É preocupante. Essa afirmação, se é que ela afirmou, foi muito desrespeitosa. Eu, particularmente, não vi choro. Mas a Nayara teria todos os motivos para chorar." A jovem foi feita refém junto com Eloá e saiu ferida do cativeiro.
Oliveira afirmou que, nos três anos que defende Nayara, nunca houve instrução para que ela chorasse e que a jovem se sentiu acuada pela advogada de Lindemberg.
Já Ademar Gomes, advogado da família de Eloá, disse que os depoimentos de ontem apontam total responsabilidade de Lindemberg pelo crime, ainda que, na avaliação de Gomes, a polícia tenha errado na condução do caso.
“Agora será que o Lindemberg vai querer jogar a culpa na imprensa? Vai querer dizer que foi a arma da policia que matou Eloá? Temos a prova pericial de que arma que matou foi a de Lindemberg. A policia errou de fato, mas quem atirou foi ele", disse.
Para José Beraldo, advogado da família de Eloá, a estratégia da defesa de Lindemberg segue sendo a de minimizar o depoimento de Nayara. "A defesa caminha no campo movediço da dúvida. Tenta desestabilizar, desmoralizar e desqualificar o depoimento da Nayara, sendo que ele foi corroborado pelas demais testemunhas."
Ele vê como pouco eficaz essa estratégia, uma vez que as testemunhas da acusação concordam que o crime foi premeditado e que houve intenção por parte do réu de matar Eloá.
Ontem, em pleno júri, Assad e os advogados da família Pimentel já haviam trocado farpas.
Segundo a "Folha de S.Paulo", após Assad questionar o choro de Nayara, um dos advogados perguntou em tom de brincadeira: "A senhora quer que eu chore, pois eu choro". A defensora entregou, então, um lenço de papel a ele, ao que retrucou: "Preferia um de seda".

Depoimentos

Após os depoimentos das testemunhas, o réu será interrogado –Lindemberg, que até agora se recusou a falar, poderá permanecer calado, mas sua advogada, Ana Lucia Assad, já adiantou que ele vai falar sobre o caso e "expor sua versão". Depois dessa etapa, os debates são abertos, com uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa, além da réplica e da tréplica.
Nesta terça-feira (14), falaram os dois irmãos de Eloá. O mais velho, que se emocionou durante seu depoimento, chegou a chamar Lindemberg de monstro e disse que não aprovava o namoro da irmã, mas aceitava porque Eloá gostava muito do réu.
O irmão mais novo confirmou que, “infelizmente”, era muito amigo de Lindemberg e que jogava bola com ele todo o fim de semana, já que todos moravam no mesmo conjunto habitacional.
Sobre o sentimento que nutre atualmente pelo réu, a testemunha disse: “No começo eu sentia muita raiva, muita mágoa. Agora só sinto pena. É um ser insignificante para mim. Ele não pode ser considerado ser humano”.
O primeiro dia de julgamento durou pouco mais de nove horas e foi encerrado às 20h de segunda-feira (13). As quatro testemunhas que prestaram depoimento confirmaram que Lindemberg fazia ameaças de morte durante o cárcere privado. O testemunho mais esperado do dia era o da amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, que foi feita refém junto com a jovem. Nayara pediu que Lindemberg fosse retirado da sala enquanto ela falasse.
A jovem, que foi ferida por um tiro no rosto quando a polícia invadiu o local, disse que o réu agrediu Eloá durante o período de cativeiro e que a vítima dizia o tempo todo que “sabia que ia morrer”. Nayara afirmou que ouviu três disparos antes da entrada da polícia no apartamento –o que comprova a tese da acusação, de que os tiros partiram do réu e não da polícia.
A amiga de Eloá também falou sobre o comportamento do ex-namorado da vítima. “Lindemberg passou a perseguir a Eloá depois que eles terminaram o namoro”, completou. Segundo a jovem, ele a considerava uma má influência para a vítima. "Ele tinha raiva de mim e da minha mãe porque a Eloá andava dormindo lá em casa e a gente saia bastante. Ele dizia que eu a influenciava diretamente."

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